Vivendo um boom nas apostas esportivas via internet, o Brasil já está entre os dez maiores mercados do mundo, com receita equivalente à de países com tradição em jogos, como Espanha e Holanda. Com esse cenário, gigantes globais como a DraftKings — pioneira em jogos on-line — e a MGM Resorts International — proprietária de hotéis e cassinos — avaliam entrar no mercado brasileiro após a aprovação, em 2023, de uma nova legislação para o setor.
A americana DraftKings está entre as mais de 130 empresas que manifestaram interesse prévio em obter uma licença no Brasil, segundo o Ministério da Fazenda. A lista inclui também a MGM e a Hard Rock International.
“Estamos empolgados em ver o Brasil aprovar a legislação de jogos on-line. Como uma das mais de cem empresas que apresentaram manifestações de interesse, continuamos a explorar o potencial de expansão para o Brasil no futuro”, afirmou Griffin Finan, vice-presidente sênior e advogado-geral adjunto da DraftKings, em comunicado por e-mail.
A MGM confirmou seu interesse no Brasil em fevereiro, quando o CEO Bill Hornbuckle declarou, durante uma teleconferência, que a operadora de cassinos sediada em Las Vegas pretende avaliar uma parceria em empreendimento conjunto no país.
Em 2023, o governo brasileiro aprovou um novo marco regulatório para o setor, que estabelece taxas de licenciamento e regulamenta a cobrança de impostos. A nova lei determina que as empresas paguem até R$ 30 milhões por uma licença, que pode precisar ser renovada a cada cinco anos, conforme avaliação do Ministério da Fazenda. Também está previsto um imposto de 12% sobre as receitas brutas de jogos.
“Tem muita gente séria que não conseguirá pagar por essa licença”, afirma Darwin Henrique, CEO da Esportes da Sorte, empresa de jogos on-line que já opera no Brasil.
Popularidade em alta
Famoso internacionalmente por sua paixão pelo futebol, o Brasil tem se tornado um mercado cada vez mais atraente para ligas esportivas estrangeiras. O número de brasileiros que acompanham a NFL (liga de futebol americano dos EUA) quadruplicou na última década, alcançando quase 40 milhões de fãs, segundo a empresa de pesquisa esportiva Ibope Repucom.
As apostas seguem o mesmo ritmo de crescimento: em 2022, o Brasil ocupou a décima posição global em receitas brutas de jogos, com US$ 1,5 bilhão, de acordo com a Entain, uma das maiores empresas de apostas esportivas on-line do Reino Unido. Em 2021, o país sequer figurava entre os 15 maiores mercados do setor.
A empresa de pesquisa de mercado Vixio GamblingCompliance projeta que as receitas brutas totais do mercado on-line regulamentado no Brasil chegarão a quase US$ 5 bilhões nos próximos cinco anos.
A popularidade das apostas on-line já atraiu multinacionais como a Bet365, a SportingBet Ltd (também da Entain) e a Betfair. No entanto, até recentemente, a ausência de regulamentação impedia muitas empresas estrangeiras de atuarem formalmente no país.
A nova legislação exige que as empresas mantenham uma presença física no Brasil. Ainda não está claro quais operadoras decidirão abrir operações locais, mas especialistas do setor apontam que a eventual chegada de gigantes globais é consequência da formalização do mercado — e não de uma estratégia deliberada para eliminar concorrentes menores.
“É um dos maiores mercados do mundo e, à medida que é regulamentado e se torna um ambiente formal, permite que empresas entrem e explorem melhor o sistema”, afirma Wesley Cardia, presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias do Brasil (ANJL).
Por outro lado, enquanto algumas das maiores marcas da indústria voltam os olhos para o Brasil, empresas menores já se preparam para um processo de consolidação em um setor que, segundo a consultoria Datahub, hoje conta com mais de mil operadores diferentes.
Mesmo diante da possibilidade de serem deixadas para trás, as operadoras que ajudaram a impulsionar o crescimento do mercado brasileiro dizem que continuarão firmes.
“Não temos medo da concorrência porque conhecemos o trabalho que fazemos”, afirma Darwin Henrique.
“O Brasil tem muitas particularidades, e os apostadores brasileiros são diferentes dos estrangeiros.”